quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Divã (Para mudar é preciso dar o primeiro passo....)

Olá Pessoal!

Ontem assisti ao filme "O Divã". Sou meio suspeita porque gosto muito da Martha Medeiros que escreveu o livro que inspirou a peça e este filme. A atriz Lilia Cabral também está o máximo e interpreta super bem a personagem Mercedes.

O filme é mto gostoso de ver, principalmente porque enquanto a gente vai rindo, a gente reflete sobre um monte de coisas mais profundas, mas de uma maneira leve, natural....

Segue abaixo algumas fotos e entrevistas com as pessoas chaves desta produção: a escritora Martha Medeiros, o diretor José Alvarenga e a atriz Lilia Cabral.

Em entrevista ao CineSemana, Martha conta como é ver seu trabalho adaptado para os palcos e telas e também destaca o assunto que mais gosta de escrever: as relações humanas.

Qual a diferença entre ver sua obra adaptada para o teatro e para o cinema?

É quase a mesma coisa. Na verdade existe um estranhamento sempre que a obra é adaptada não importa pra qual veículo porque a gente sempre que escreve se senti assim uma proprietária privada, ‘foi eu quem inventei os personagens, eu conheço bem aquelas emoções que estão no papel, aquilo ali tem muito a ver comigo’. De repente quando a gente vê a obra ganhar corpo, “ganhar corpo” aqui no caso não é jogo de palavras, é ganhar corpo mesmo, existe uma atriz, existe outros atores, existe voz, figurino e outras emoções, claro, é um susto, mas é um susto bom, é uma coisa muito interessante. A gente vê o desdobramento que aconteceu e o livro foi apenas um pontapé inicial disso tudo. É muito bacana. Eu to muito feliz. Agora o fato de ser teatro ou cinema não muda tanto. No caso do Divã pra mim foi surpreendente porque eu já achava que o teatro tinha sido um sucesso e já tinha sido um presente isso acontecer relacionado a um livro meu. Agora o filme vem dar um novo fôlego nessa história toda. Eu brinco assim: o Divã virou um case, porque agora ta completo, é livro, é peça e é filme. E eu acho que pra qualquer autor isso é um super orgulho.

Você acompanhou as filmagens ou se envolveu de alguma outra maneira na produção do longa-metragem?

Nada, eu acho que o autor tem que dar liberdade para aqueles que vão adaptar. Porque eu tenho que entender que cada um faz uma leitura da obra, uns conseguem desenvolver mais o lado humorado. No caso da Lilia, por exemplo, ela deu uma veia cômica muito maior ao personagem do que tinha no livro. Às vezes um personagem que é pequeninho no livro, eles acham que tem potencial pra crescer e cresce na obra, sendo teatro ou cinema. Outros personagens que eram pequeninhos no livro desaparecem ao invés de crescer. Eu acho importante porque é uma outra linguagem, não pode achar que teatro e cinema é igual ao livro. Literatura é uma coisa, cinema é outra, teatro é outra, e eu não domino nem cinema, nem teatro. Eu sou só uma espectadora. Então eu achei muito melhor pra eles que eu ficasse ausente do processo de criação, porque se não eles vão querer me agradar, quando na verdade eles têm que agradar o seu espectador, têm que agradar o público e não a mim. E acho que desse jeito é uma maneira mais generosa de trabalhar e pra mim é melhor também porque se não eu ia ficar me frustrando, eu ia me estressar, ‘ai tem que ser assim, tem que ser assado, isso eu gosto, isso eu não gosto’. Não tem porque eu ter essa trabalheira toda. Eu prefiro confiar na equipe e deixar que eles trabalhem com liberdade. Eu sentei no cinema e assisti como qualquer outra pessoa que vai assistir. Eu não sabia o que eu ia ver. Sabia quem era o elenco, confiava muito no diretor, que eu tinha almoçado uma vez só, mas já tava tudo pronto, foi só pra gente sem conhecer. E na peça foi assim também, eu sentei ‘e seja o que Deus quiser’.

E a adaptação ficou bastante fiel?

No aspecto geral ta fiel. É a história de uma mulher casada com filhos, ela nem sabe direito o que ta fazendo na terapia, mas ela sente que tem alguma coisa incomodando, e aos pouquinhos, à medida que as consultas vão passando, a vida dela também vai se transformando, ela acaba tendo um caso com um cara, quer dizer essa parte toda, ela tem a melhor amiga, tudo isso foi mantido, isso ta tudo muito fiel ao livro. O que tem de diferente é alguns personagens, outros que não aparecem muito, isso mudou um pouco. Acho que a peça e o filme são bem mais bem humorados e mais leves do que o livro. Existe uma comunicabilidade muito legal, existe a intenção de claro fazer as pessoas refletirem, mas o humor ta bem mais presente. Eu acho que se tivesse que ter uma grande diferença, não que o livro não tenha um certo humor, ele até tem, mas é um humor mais contido, é mais uma ironia, um sarcasmo, são coisas mais pontuais, enquanto que o personagem da Mercedes ele é mais engraçado, até porque a Lilia faz comédia muito bem, faz tudo bem, mas a comédia em especial. Então eu acho que o filme, principalmente, ganhou nesse aspecto. Mas eu não posso dizer que é uma coisa muito diferente do livro não, acho que a espinha dorsal vamos dizer foi mantida.

Com as adaptações, você e a Lilia Cabral se aproximaram e mantém contato?

Sim, tudo começou através dela mesmo porque na época em que ela leu o livro ela gostou muito, conseguiu meu telefone e disse que tinha interesse em adaptar. Logo depois a gente se encontrou pessoalmente e conversamos. Eu vi como seria o projeto dela e dei carta branca. Não participei das adaptações, nem do teatro e nem do filme. Eu realmente dei carta branca, deixei que eles fizessem o que quisessem. Mas fiquei muito satisfeita com o resultado. E claro, depois eu assisti a peça várias vezes. Acho que assisti a peça umas oito vezes nos três anos em que esteve em cartaz porque a cada estreia em uma cidade eu ia junto, enfim, tinha várias situações em que eu tava com o elenco. E agora com o filme houve essa reaproximação de a gente ter dado muitas entrevistas juntas, então eu acabei tendo mais contato com a Lilia.

O livro aborda a psicanálise. Você tem alguma relação com essa área, tem algo marcante na sua vida sobre isso?

Não, na verdade eu gosto muito, até nas minhas crônicas, o meu assunto preferido sempre foi relações humanas. Eu gosto muito dessa complexidade do ser humano, de investigar o que está por trás das atitudes, quais são os nossos desejos mais secretos, eu sempre achei tudo isso muito fascinante. Mas eu nem ao menos faço análise, eu não faço. Pra mim escrever é que é terapêutico. Mas eu sempre gostei muito do que move as pessoas, o que faz com que uma pessoa seja feliz ou infeliz, como é que uma pessoa tendo tudo que todos acham que é o básico, que é ‘ah tenho amor, tenho saúde, tenho dinheiro’, porque que tanta gente que isso ainda assim não se senti a vontade na vida e ainda senti que ta faltando alguma coisa. Esse faltar alguma coisa sempre me cativou, o que que é, como é que a gente resolve as nossas carências, e como a gente vai mudando com o tempo, o que nos fazia feliz aos 20 anos, aos 40 já não é mais isso é outra coisa. Eu gosto muito dessa mobilidade da vida, dessa eterna busca, que não vejo isso como uma angústia, mas vejo isso como um trajeto que tem que ser percorrido mesmo. E o livro na verdade é isso, é o trajeto de uma mulher que já viveu alguma coisa, ela ta na meia-idade, e ainda tem mais uma parte dois pra viver na vida e ela quer saber o que fazer dessa parte dois, se ela segue com as mesmas escolhas ou se ela muda de rumo. E acho que isso é comum a todos nós, por isso até acho que o Divã, o livro fez sucesso e fez sucesso com a peça e acho que o filme tem tudo pra fazer também porque eu acho que é muito fácil a gente se identificar com esses questionamentos.
Divã retrata temas do cotidiano como casamento, maternidade, solidão e paixão. Você acha que suas crônicas têm alguma influência sobre o livro?
Eu acho que tem. Às vezes eu até fico constrangida de chamar o Divã de um romance porque na verdade eu acho que na verdade ele é um livro de transição entre a crônica e a ficção. Ainda eu me coloco muito até em função de ser escrito na primeira pessoa e os assuntos que têm no Divã, muitos deles eu já abordei em crônicas, só que claro no livro eu tenho mais espaço, eu posso aprofundar mais, eu posso desenvolver mais esses assuntos. Mas eu não acho que seja uma obra completamente diferente das crônicas que eu faço. Só que ali existe um personagem que conduz todos esses temas. Essa é a diferença maior e é um livro de ficção. É diferente nesse aspecto, quando eu escrevo crônica eu to dando minha opinião, ali é eu Martha, e na ficção eu consigo realmente abordar os temas que não tem nada a ver comigo assim especificamente, mas que eu também tenho interesse em discutir.

Você tem planos para seguir com as crônicas, escrever outra novela ou lançar um romance?

As crônicas continuam sem interrupção. Eu continuo com as minhas duas colunas no Jornal Zero Hora e a minha coluna dominical no Globo do Rio, isso aí é o meu trabalho estável, fixo. Depois do Divã, eu já escrevi dois livros de ficção, um que se chamou Selma e Sinatra e o outro foi de dois anos atrás Tudo o que eu queria te dizer, que é um livro de cartas, e também são tentativas minhas de entrar para o mundo da ficção e já to escrevendo um quarto livro de ficção, que eu pretendo concluir até o final do ano, mas não to com pressa, e que também fala sobre relações humanas e dores de amor. Vou em frente. Não sou de fazer muitos planos, mas trabalho sem cessar e aí vamos ver o que a vida vai oferecer.

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Agora do http://www.portaldecinema.com.br/Filmes/diva.htm segue abaixo entrevista
com o diretor José Alvarenga

Como surgiu o interesse pelo Divã?

Eu apenas tinha ouvido falar do livro quando fui ver a peça – e ali eu percebi que tinha um filme. Ela falava de histórias pessoais, de mudanças e de situações corriqueiras da vida de alguém que foi casado por muito tempo. No fim da peça, eu fui cumprimentar a Lilia e falei no ouvido dela: “Vamos fazer o filme do Divã!” Ela ficou surpresa, riu e seis meses depois me ligou dizendo que tinha conseguido a autorização da Martha Medeiros. A partir daí é que a gente começou a tentar entender onde estava o filme. Fui ler o livro e vi que a peça tinha um formato totalmente diferente – eles tiveram que procurar soluções para narrar aquela história. No fim das contas, o filme é fiel ao livro e também à peça. Mas, ao mesmo tempo, criamos um universo particular.

Como foi feito o tratamento de roteiro para descobrir o que havia de cinematográfico no Divã?

Uma vez por semana, eu o (Marcelo) Saback e a Lilia nos reuníamos e íamos buscando as imagens – e a partir delas, a gente foi refazendo as situações. Na peça, por exemplo, havia um restaurante japonês, mas a gente achou que o restaurante cinematográfico era o chinês, porque tem muito mais elementos visuais que um japonês. E aí investimos nisso. Um barato do filme também é que aquele diálogo que a Mercedes tem com o analista. Isso funciona para o espectador, funciona como reflexão, funciona para levar a história para frente, para levar para trás... O filme acompanha esse movimento. E, além do mais, a gente tinha um trunfo maior que era a Lilia Cabral. É muito interessante fazer um filme quando você já conhece os personagens, fica quase uma festa entre amigos.

A produção foi bem tranqüila, não?

Quando eu vi o Divã e falei que ele dava um filme é porque eu olhava aquilo e percebia que ele tinha uma maneira bacana de ser produzida. Do momento em que a autorização saiu até o filme ser feito, foi praticamente um ano e meio. Um processo muito rápido. Eu estava de férias quando me avisaram que o dinheiro tinha saído e que a gente tinha que rodar o filme em um mês. Foram seis semanas de preparação e quatro de gravação, só isso. Esse filme tinha essa vantagem artística – era um modelo possível. Alem disso, era uma história emocional, que comunica. Tenho uma amiga careta que amou a peça. E uma outra amiga que é uma hippie total dos anos 60 que também amou. O Divã pega de uma ponta a outra. Ele não fala só da alma feminina, que é complexa, mas também da necessidade de mudança de todos nós...

Qual a sua visão da Mercedes?

Ela é uma mulher incomum que tem uma rotina comum – isso foi o que interessou a todos nós nesse projeto. As pessoas se reconhecem na Mercedes. Tem os filhos, o marido, o tédio do casamento, a separação que muitas vezes não vem – por medo ou receio –, a traição que muitas vezes pode ser sem culpa... E essa mulher assumia essas coisas de uma maneira firme, o que para muitas pessoas é um tabu monstruoso. Ao mesmo tempo, ela não é uma mulher que usa tatuagem ou que fume maconha. Mas ela já passou pelos anos 60, pela liberdade sexual e se apropriou de tudo isso que mudou o mundo. É uma pessoa que vive uma vida comum, mas que é incomum. Como, no fundo, são todas as pessoas.

Agora do http://www.portaldecinema.com.br/Filmes/diva.htm segue abaixo entrevista com a atriz Lilia Cabral ..::

Qual foi o impacto que o livro da Martha Medeiros teve sobre você?

As imagens do Divã eram muito fortes. O que a Martha dizia era muito cinematográfico e teatral também. E o livro tinha a forma cotidiana de falar, uma forma natural de dizer as coisas que eram universais, que não eram datadas. Quando lia alguma coisa, volta e meia eu pensava: essa é uma situação que pode acontecer daqui a dez anos! Acho que a Mercedes diz muitas coisas que as mulheres gostariam de ouvir. Ela tem um frescor muito grande – e foi esse frescor que me despertou para seguir em frente. Assim, quando acabei o livro eu estava decidida mesmo a fazer a peça.

E como foi que o José Alvarenga Jr chegou com a proposta do filme?

Eu já tinha feito algumas participações em Os Normais e A Diarista (minisséries que ele dirigiu) e a gente sempre se perguntava: quando é que a gente vai trabalhar junto de verdade? Eu já tinha falado como ele de um projeto que eu tinha vontade de fazer e aí ele foi assistir ao Divã. Logo depois, ele me perguntou se eu tinha vontade de transformar a peça em filme – e disse que já tinha pessoas que podiam ser acionadas. Por uma feliz coincidência, era o pessoal da Total Entertainment, que já tinha visto a peça também. E o Bruno Wainer também tinha ido à peça na mesma semana que o Alvarenga. Então, quando a gente começou a conversar, todo mundo já estava inserido naquela história.

Como foram as filmagens?

Foi tudo muito rápido – quatro semanas em que todo dia era cumprido o cronograma. O Alvarenga sabe comandar uma equipe, ali ninguém perdeu tempo. As cenas do consultório a gente fez num dia só. Comecei oito da manhã e acabei às oito da noite. Depois, na montagem, é que você vai vendo as evoluções sutis do personagem. Foi um dia cansativo de trabalho. Mas se parar para pensar, foi tão gostoso! E protagonizar pela primeira vez um longa-metragem, que tal?Ah, Deus me livre! (risos). Quando você está fazendo, tudo é festa. Até então, você não sabe que é protagonista e não está nem aí. Mas quando acaba isso e você vai ver o primeiro copião... aí é que percebe que vai tudo começar! Agora é que eu vou começar a ter a sensação do que é ser protagonista. Eu sei que eu estou lá, dando a minha cara a tapa, com as pessoas todas me vendo, mas eu prefiro pensar que estou lá contando uma história em que eu sempre acreditei, e que tem um monte de gente junto contando também.

Como você vê a Mercedes?

A Mercedes era uma mulher que pensava que estava vivendo – tinha vinte anos de casada, era professora, gostava de pintar, o marido era advogado... Mas a partir do momento em que ela começou a falar, ela foi se conhecendo. E com isso ela viu que não estava vivendo. Ou melhor: ela estava vivendo, mas ela não era feliz. E o fato de você buscar uma felicidade não significa que você vai de encontro à felicidade. Ela acredita que a vida está começando – e que não tem regras, não tem pesos e medidas. Que o mais importante é viver. Essa é uma história simples, essa é uma história humana, conhecida de todos. Mas ela não é antiga, não é retrógrada, ela tem um frescor. Fizemos o filme com o coração.Qual o lugar da Mercedes no seu vasto rol de personagens?Eu acho que ela é um divisor de águas na minha vida. Porque eu sempre gostei muito de fazer mulheres que falam sobre relacionamentos. Acho que ela completou um ciclo relativo à minha vontade de mostrar um crescimento. Parece que a Mercedes é o amadurecimento de todos os outros personagens que eu interpretei – uns caricatos, outros não. Hoje, ela é uma das primeiras do meu ranking.

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