quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Martha Medeiros - O anjo e o diabo

O anjinho diz para um cara: “Que história é essa de sair do trabalho no meio da tarde? Você sempre foi responsável, não coloque em risco sua boa imagem por causa de uma aventura”.O diabinho contra-argumenta: “Ninguém vai morrer se você sair mais cedo – e a bonitona que você conheceu quer pegar um avião logo mais à noite: e se ela for a mulher da sua vida?”.O anjinho: “Esquece isso, você perderá a chance de ser promovido por causa de uma escapulida que vai pegar supermal com seu chefe” .O diabinho: “Seu chefe não tem aquelas pernas!!”.

O anjo e o diabo brigam incessantemente, e essa é uma das razões pelas quais a vida pode ser divertida: se a gente tivesse certeza de tudo, qual seria a graça? Eu geralmente sigo os conselhos do meu anjo porque ele enxerga a longo prazo. O diabo tem mais humor e mais ousadia, mas ele não prevê conseqüências, vive o agora, o imediato: sempre acha que vamos morrer amanhã. Não é diabo à toa.

São dois grilos falantes que não decidem por nós, mas nos ajudam a tomar atitudes razoavelmente equilibradas. Geralmente eu aproveito um pouco do que cada um deles me sussurra e transformo em outra coisa, em um terceiro pensamento: o meu.

(...)

Anjinhos e diabinhos nos divertem e instigam, mas a gente conduz nossos atos, a sério, de acordo com os sussurros que nos chegam da infância. Se não vem nada de lá, só nos resta detonar com tudo.

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