domingo, 20 de setembro de 2009

Não imite ídolos, aprenda com eles - Eugenio Mussak


Antigamente havia um lugar para aprender - a escola, e um lugar para trabalhar - o emprego. Hoje todos os lugares são feitos para aprender, principalmente a empresa onde trabalhamos. Ter vontade de aprender continuamente é uma marca importante dos profissionais que são mais desejados. Estes são chamados de talentos e são cobiçados pelas organizações.

Mas é importante lembrar que a empresa não tem a responsabilidade de desenvolver seus funcionários, e sim, de dar condições para que eles se autodesenvolvam. O poder, então, está em suas mãos. Não desperdice nenhuma oportunidade de aprender. Você será observado pela qualidade de seu trabalho, mas também por sua disposição em aprender.

Para que você entenda melhor o que quero dizer, leia a historinha a seguir, retirada da literatura universal:O livro Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, conta uma história ambientada na França do século XVII, em que aparecem três curiosos personagens: Roxana, Cristiano e Cyrano.

Roxana era uma mulher belíssima, a mais cobiçada do lugar. Cristiano era um rapagão sarado, bonito e desejado pelas mulheres. Só tinha um problema: quando abria a boca não saía nada de valor. Cyrano, por sua vez, era exatamente o contrário: um poeta nato, dotado de um humor agradável e de uma grande cultura, que encantava todas as pessoas. Só que ele também tinha um problema: ostentava um nariz ainda maior que sua cultura, o que fazia de sua figura algo entre o grotesco e o cômico.Ambos estavam apaixonados por Roxana.

Mas Cyrano, em um gesto de altruísmo, e acreditando que era mais fácil corrigir a burrice do Cristiano do que sua própria feiúra, resolveu ajudar o amigo. Passou a escrever as falas que Cristiano teria de usar para conquistar a bela mulher. Em algumas situações, Cyrano colocava-se à sombra de alguma árvore, declamando poemas enquanto o amigo apenas gesticulava sob a janela da desejada mocinha.

O fim dessa história é bem conhecido. Roxana não se deixou enganar por muito tempo e acabou descobrindo que o autor de tão belas frases não era o guapo Cristiano, mas o feio e narigudo Cyrano. E este, surpreso, acabou percebendo que tinha, sim, alguma chance com a amada, pois ela estava interessada mais por sensibilidade e sinceridade do que por estampa e superficialidade.

O erro de Cristiano não foi, absolutamente, ter aceitado a ajuda do amigo. Seu erro foi não ter aprendido com ele a ser melhor. Tentou ser o que não era, e não melhorar o que sempre foi. Ninguém precisa nascer poeta, bem como ninguém nasce empreendedor, comunicativo, responsável, líder, flexível, colaborativo, ambicioso. Ou quem sabe todos nós já nascemos com essas características, tão desejadas no mercado de trabalho, e que se encontram ocultas e latentes, precisando apenas da percepção de sua existência e de algum esforço para desenvolvê-las.

Se você é o Cristiano e a empresa é sua Roxana, não tente ser igual a seus ídolos, professores ou articulistas de revistas especializadas. Seja você mesmo, deixando claro para si e para seu chefe que você está aprendendo sempre, e não apenas repetindo ladainhas pré-escritas. Lembre de Cyrano, que embora tenha duvidado de si mesmo no início, acabou se dando bem mesmo com sua imperfeição, porque investiu em suas qualidades. Afinal, quem não tem uma imperfeição, não é mesmo?

Eugenio Mussak é escritor e conferencista nas áreas de mudanças, liderança, desenvolvimento humano e profissional. É autor de vários livros, entre eles "Metacompetência", "Caminhos da Mudança" e "Liderança em Foco". Escreve para as revistas Você s/a e Vida Simples, da Editora Abril. Atua como professor de conceituadas escolas de gestão no Brasil tais como FIA (USP), Fundação Dom Cabral (MG) e CENEX (RS), mas formou-se originalmente em Medicina pela Universidade Federal do Paraná. É membro do comitê de criação do Congresso Brasileiro de Recursos Humanos - CONARH. Foi apontado pelas revistas Veja e Exame como um dos maiores conferencistas brasileiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário