Médicos explicam por que alguns de nós sentimos o coração disparar e as pernas ficarem trêmulas quando temos de andar de elevador, falar em público, tomar injeção...
"Esta é uma reação normal e útil para a nossa preservação. Ao sentirmos medo, tomamos providências para evitar situações de risco", analisa o psiquiatra Antônio Egídio Nardi, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sem essa sensação, jamais olharíamos para os lados antes de atravessar a rua e, muito provavelmente, já teríamos sido atropelados há muito tempo.
No caso da fobia social, os médicos recomendam, além da psicoterapia, medicação. Segundo os especialistas, antidepressivos evitam que certos sintomas para lá de desagradáveis, como palpitação, sudorese e taquicardia, fujam ao controle do paciente. "O tratamento é dos mais bem-sucedidos que existem. Na maioria dos casos, os pacientes ficam totalmente livres dos sintomas", tranquiliza Gama Filho. "Mas é importante que a medicação seja ministrada no tempo mais curto possível. Alguns remédios, como os tranquilizantes, podem causar dependência", ressalva Bernard Miodownik.
Por André Bernardo
Pouca gente sabe, mas é bom sentir medo. Saudável, até. Se você está lendo a VivaSaúde, confortavelmente refestelado no sofá da sala, é porque seus antepassados tiveram medo. Se não fosse assim, a espécie humana não teria sobrevivido à fúria de predadores, ou escapado do ataque de bárbaros. É o medo o que nos deixa alerta e nos prepara para lutar ou fugir diante de uma determinada sensação de perigo.
"Esta é uma reação normal e útil para a nossa preservação. Ao sentirmos medo, tomamos providências para evitar situações de risco", analisa o psiquiatra Antônio Egídio Nardi, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sem essa sensação, jamais olharíamos para os lados antes de atravessar a rua e, muito provavelmente, já teríamos sido atropelados há muito tempo.
Mas, e se o medo de ser atropelado fosse tanto, que nos impedisse de sair de casa? Medo é saudável; fobia, não. "Fobia é o nome dado ao medo inexplicável que sentimos de determinados animais, objetos ou situações. É tão irracional que chega a paralisar a pessoa. Além de causar sofrimento psicológico, traz, ainda, enorme prejuízo social", observa o psiquiatra Leonardo Gama Filho, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
E põe prejuízo social nisso! No caso da empresária Raquel Soares*, 50 anos, o medo de avião lhe custou a carreira profissional. Toda vez que tinha de viajar, passava pelo constrangimento de tomar calmantes e perturbar as comissárias de bordo. "Certa vez, desisti da viagem após passar pela fila do check-in. Deprimida, não via outra saída senão pedir dispensa da empresa em que trabalhava", lamenta Raquel.
Saudável ou patológico?
Segundo especialistas, não é tarefa das mais difíceis identificar uma fobia. Quer um exemplo? É natural que qualquer um de nós tenha medo de ser picado por animais venenosos, como aranhas, cobras e escorpiões. Mas, se alguém chega a passar mal só de ouvir falar o nome de algum deles, cuidado: é sinal de que o medo se transformou em fobia.
"Muitas fobias são desenvolvidas ainda na infância. É o caso da criança que copia o modelo comportamental da mãe, que morre de pavor de barata. De tanto ver a mãe subir na cadeira, aos gritos, a criança vai concluir que a barata é um animal perigoso. E logo vai desenvolver fobia de barata, também", explica o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, do Ambulatório de Ansiedade (Amban) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Segundo estimativas, filhos de pais fóbicos têm 15% de chances de perpetuar o padrão comportamental familiar, na fase adulta.
Por vezes, tais fenômenos fóbicos são deflagrados por experiências traumáticas ou situações estressantes. Como a que aconteceu com a arquiteta Marcela Albuquerque*, hoje com 39 anos. Quando era criança, sua mãe tentou obrigá-la a tomar um remédio. Diante da recusa da menina, resolveu camuflar o comprimido em um inocente pedaço de pudim. O problema é que o remédio ficou preso na garganta de Marcela, que achou que fosse morrer... engasgada. "Passei cerca de 20 anos me alimentando apenas de sopas, sucos e vitaminas", recorda Marcela, que desenvolveu fobia de alimentos sólidos. "Raramente ia a festas, porque suava em bicas ao ver brigadeiros e cajuzinhos. Achava que morreria engasgada se comesse um deles", lembra.
Sem motivo aparente
O que fazer quando a fobia não é motivada por trauma ou estresse? Quando não há, pelo menos aparentemente, um estopim ou algo parecido? Em alguns casos, a fobia parece, simplesmente, ter nascido com a pessoa. É o caso do analista de sistemas Joaquim Santana*, 44 anos, que até hoje não sabe explicar de onde vem a sua aversão por lugares fechados. Andar de ônibus? Raramente. Elevador? De jeito algum. "Certo dia, cheguei a uma entrevista de emprego, e quase caí para trás ao descobrir que o escritório ficava no 15° andar. Preferi subir de escada a correr o risco de ficar preso no elevador", admite.
Segundo estatísticas da Associação Americana de Psiquiatria, 25% da população mundial está sujeita a sofrer, pelo menos uma vez na vida, um súbito ataque de pânico provocado por uma fobia específica. Mas as fobias nunca vêm sozinhas. Ao se deparar com o obscuro objeto de seu medo, o fóbico costuma sentir rubor facial, formigamento nas mãos, transpiração intensa e dor no peito. Em bom português, é como se o coração fosse sair pela boca. Muitos relatam, inclusive, sensação iminente de desmaio.
"Quando você descobre que tem medo de um determinado objeto, e recua, esse medo só tende a aumentar. O que antes era um simples desconforto, começa a se transformar em tabu instransponível. Nestes casos, quanto mais cedo procurar ajuda, melhor", assegura Gama Filho.
As duas faces do medo
Para facilitar o entendimento do transtorno, os médicos logo dividiram a fobia em dois grupos: a específica e a social. A específica é aquela provocada pela exposição a um determinado animal, objeto ou situação particular. A aversão é tanta que, com o tempo, o indivíduo passa a evitar o estímulo fóbico, para não sofrer.
"Quando determinada fobia é desencadeada por trauma ou estresse, por exemplo, ela pode até demorar a passar, mas (geralmente) passa. O pior é quando a pessoa já "cronificou" o problema. Ou seja, criou toda uma teia de justificativas para não se deparar com ele. Quando isso acontece, as chances de cura são menores", alerta o psicanalista Bernard Miodownik, da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ).
Já a fobia social pode ser descrita, em linhas gerais, como o receio de exercer qualquer atividade em público, (como falar, comer, ou simplesmente assinar um cheque) por medo de ser observado, julgado ou, pior, criticado pelos outros. Segundo especialistas, a fobia social pode ser definida como "uma timidez patológica", que leva o indivíduo a viver em estado de total isolamento ou reclusão.
Grupo de risco
"Toda fobia é incapacitante. Mas a social é a mais incapacitante de todas. O fóbico social não conseguem sequer iniciar uma conversa com alguém na rua. O quadro é tão grave que, muitas vezes, está associado a outras comorbidades, como depressão e consumo de drogas", adverte Barros Neto. De fato, em 50% dos casos, os fóbicos sociais desenvolvem quadros depressivos. Em outros 20%, a doença pode levar o indivíduo à dependência de drogas, álcool ou remédios.
A medicina ainda não chegou a um consenso sobre o perfil dos fóbicos. Quem são eles? Segundo alguns estudos, pessoas extremamente controladoras, meticulosas e perfeccionistas estão mais propensas a desenvolver comportamento fóbico do que as demais. O psiquiatra Antonio Nardi discorda. "Toda e qualquer pessoa está sujeita a ter fobia. Muitos têm fobias e não se lembram delas, diariamente, porque mantêm um comportamento de esquiva", salienta o médico.
Esperança de cura
Por enquanto, a única certeza dos médicos diz respeito ao tratamento. "No caso da fobia específica, o melhor a fazer é submeter o paciente à terapia cognitivo-comportamental (TCC)", recomenda Barros Neto.
No caso da fobia social, os médicos recomendam, além da psicoterapia, medicação. Segundo os especialistas, antidepressivos evitam que certos sintomas para lá de desagradáveis, como palpitação, sudorese e taquicardia, fujam ao controle do paciente. "O tratamento é dos mais bem-sucedidos que existem. Na maioria dos casos, os pacientes ficam totalmente livres dos sintomas", tranquiliza Gama Filho. "Mas é importante que a medicação seja ministrada no tempo mais curto possível. Alguns remédios, como os tranquilizantes, podem causar dependência", ressalva Bernard Miodownik.
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