quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Deselegâncias Profissionais - Suely Pavan

Autoria: Suely Pavan

O bordão “Que deselegante” tornou-se popular depois que a elegante e educada jornalista Sandra Annenberg o proferiu no Jornal Hoje após ver sua colega de trabalho ser arrastada por um maluco durante uma reportagem.

Tenho certeza absoluta que a frase apenas se tornou um bordão, pois a elegância ainda é algo que a maioria das pessoas não cultua em sua vida diária. Basta você andar de carro nas ruas, ou tentar entrar num vagão do metrô ou trem, e verá que a elegância passa anos luz distante da maioria das pessoas. E elegância nada tem a ver com riqueza ou classe social abastada. Ela está ligada diretamente aos bons modos, educação, civilidade e trato social. Tem gente que além de não ser nem um pouco elegante ainda diz que elegância é “frescura”. Outros ainda a associam ao uso de roupas de griffe.

Mas elegância não é nada disso!

É elegante quem é distinto, delicado e educado.

O meu foco neste texto será a elegância no contexto empresarial, aquele que tem a ver com o exercício de um trabalho. Não importa se este trabalho é o de servir mesas ou dirigir uma empresa. A elegância deve estar presente em qualquer lugar.

Sinais de deselegância profissional:

1) Gente que fala gritando com clientes e colegas: Pega lá... Tá na outra sessão... Você não prestou atenção!

Outro dia quase fiquei surda porque a vendedora que me atendia deu o maior grito em meu ouvido falando com a colega de trabalho que estava ao seu lado, mesmo ao me ver colocando a mão sobre o ouvido para me proteger de seus gritos. Cabe ressaltar que ela não estava brigando com a colega, mas sim conversando normalmente enquanto me atendia.

Falar gritando é inadmissível dentro do contexto organizacional. Chefes e gestores, aliás, deveriam saber orientar corretamente pessoas que fazem isto no trabalho.

A última vez que fui ao Aeroporto de Guarulhos tive a impressão de estar na Rua 25 de março, pois no check in todos gritavam, tanto entre si como com os clientes na fila de espera. Ridículo um Aeroporto Internacional parecer uma feira livre. Poderiam usar um microfone (mais elegante) do que comunicar-se aos berros.

2) Pessoas que são incapazes de dizer as três palavras mágicas: Por favor, Obrigado e Desculpe.

Aprendi isto quando eu era muito pequena e uso até hoje. Percebi que estas três palavras abrem portas para o mundo, e quando não as usamos corremos sério risco de criar muros entre nós e as outras pessoas. O ”por favor” significa que mesmo ocupando um cargo de gestor a educação é que manda, e não atrocidades do tipo assédio moral: Faça isto; Pegue aquilo; Telefone para o Fulano; etc.

O ato de agradecer é sempre uma reverência ao outro. Quando por exemplo um gestor acha que o colaborador não fez mais que a sua obrigação, raramente agradece e depois reclama da falta de comprometimento de sua equipe. Favores se pedem e também se agradecem. Vejo diariamente várias pessoas em grupos de RH na Internet pedindo caminhões de coisas, mas muito poucas agradecendo àquilo que receberam de mão beijada de outra pessoa. Pedem emprego, pedem dinâmicas de grupo, pedem trabalhos prontos e ainda reclamam quando o outro lhe oferece menos do que imaginava receber, mas pouquíssimas agradecem.

O pedido de desculpas deve ser sincero, lembrando que só os intransigentes e os inexistentes perfeitos não cometem erros.

3) Não escreva na Internet ou em e-mails aquilo que você não falaria pessoalmente para uma pessoa.

Vejo diariamente pessoas agredindo outras e julgando gente que mal conhecem apenas pela facilidade da Internet. Pouco antes de escrever este texto havia escrito num site sobre um filme que não gostei. O autor do site fez questão de colocar um erro de português que cometi num post no Twitter. Um dos seus leitores me chamou de imatura, apenas porque eu não gostei do filme. Por qual razão uma pessoa faz isto? Apenas para se sobressair sobre o outro e ganhar seguidores. Discordâncias intelectuais facilitadas pelo uso da Internet podem ocorrer, porém a deselegância na escrita, muito mais do que o uso do Português, podem ser comprometedoras.

4) Uso de celular no ambiente de trabalho.

Recentemente presenciei uma cena desconcertante numa grande loja de venda de materiais de construção em São Paulo. O atendente mandava mensagens ao celular de 5 em 5 segundos e depois marcava “baladas” pelo mesmo, obrigando o cliente a virar-se sozinho. Esta cena até pode parecer rara, mas minha observação constante mostra que ela é a cada dia mais freqüente. Este fenômeno da falta de atenção e conseqüentemente de elegância para com o outro ocorre também em faculdades, cursos de pós graduação e MBAs. Ou se dá atenção para as conversas ao celular, ou para a pessoa que está à nossa frente. Esta conversa fiada de que dá para fazer tudo ao mesmo tempo nos desumaniza, já que não somos robôs e nossa atenção é focada.

5) Falta de retorno.

Como empresária e prestadora de serviços, dispendio um tempo considerável elaborando propostas. Muitas vezes atravesso noites escrevendo em função da urgência de meus clientes. Costumo fazer propostas uma a uma e de acordo com aquilo que meus clientes solicitam através do site, ou por e-mails ou ainda em reuniões. E qual não é minha surpresa, mesmo ao pedir a máxima urgência, quando não dão o menor retorno. Retorno significa: “Sim, está aprovado”, ou se a resposta for negativa ao menos uma satisfação sobre o motivo, afinal gastei horas e horas de meu tempo confeccionando a tal proposta. Como empresária, acho isto de uma deselegância ímpar. Afinal, se o tempo da empresa é corrido, o meu tempo como empresa também o é.

Além da falta de retorno, há alguns que apenas usam a minha proposta para passar para outro fornecedor mais barato ou amigo. E outros, ainda, chegam a copiar minha proposta e a desenvolver eles mesmos em sua empresa, após vendê-las aos seus dirigentes.

O mesmo acontece com empresas que abrem vagas - fazem processos demorados e são incapazes de remeter um e-mail dizendo que o candidato não foi o escolhido. Como profissional com anos e anos de experiência acho isto absurdo. Não se toma o tempo das pessoas para depois dizer que não tem tempo para lhes dar a mínima satisfação.

Nas relações profissionais a falta de profissionalismo indica uma única coisa: AMADORISMO.

De todas as deselegâncias cometidas no âmbito profissional o amadorismo é a mais mortal, pois empobrece as relações e faz com que não acreditemos nas empresas.

Empresas investem rios de dinheiro em propaganda deveriam investir mais em treinamento. Sobram vagas, mas a qualidade do treinamento está a cada dia mais pífia. Nenhuma campanha de propaganda tem sido capaz de calar a boca do consumidor brasileiro, que a cada dia se depara com o despreparo deselegante de gente que ocupa cargos sem a menor condição de fazê-lo.

Treinamento é educação, e não adestramento de pessoas. Bons treinamentos têm a elegância como permeadora de todas as ações.

Autoria: Suely Pavan

http://www.pavandesenvolvimento.com.br

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