quinta-feira, 20 de maio de 2010

O futebol nos campos da gestão

Em clima de Copa, o meio-de-campo entre futebol e gestão de pessoas


por Gumae Carvalho

Em clima de Copa, as analogias entre o mundo do trabalho e o dos gramados vêm à tona. Exemplos tirados das quatro linhas, como a criatividade da seleção da Holanda no campeonato mundial de 74, o chamado Carrossel Holandês, até o espírito de equipe que une os 11 jogadores em torno de um mesmo objetivo pululam palestras, livros, conversas.Nesta edição, escalamos o santista fanático Marcelo Santos, vice-presidente de RH do BankBoston, e os palmeirenses Almiro Reis Neto e Wagner Brunini, respectivamente presidente da Franquality Consultoria e diretor de RH da Basf para a América do Sul, para fazerem o meio de campo entre futebol e gestão de pessoas. E, como em uma boa equipe sempre há uma surpresa, mostramos como um aspecto do mundo do trabalho garantiu uma marca forte no meio futebolístico a um personagem quase folclórico: Dadá Maravilha.

CRIATIVIDADE

O que caracteriza um time campeão? Certamente, habilidades técnicas, disciplina, espírito de grupo, liderança competente. Arrisco-me, porém, a dizer que uma equipe assim será, no máximo, competente. O pulo do gato pode estar em algo até mais simples: a criatividade. O case da Holanda na Copa de 74, na Alemanha, é um bom exemplo. Fora das Copas desde 38, a Laranja Mecânica ressurgiu no maior evento de futebol - que, pela primeira vez, foi transmitido em cores - com uma forte equipe que surpreendeu o mundo pelo dinamismo, poder de improvisação e criatividade. Adotando a estratégia inovadora de um time sem posições fixas (que nos remete ao profissional de hoje, que precisa ser flexível e multifuncional) e que atacava "em bloco" para roubar a bola do adversário (empresa sem conjunto não ultrapassa a concorrência, a gente sabe), a Holanda foi a sensação, chegou à final com os anfitriões e gravou nas mentes de todos os torcedores o termo "Carrossel Holandês". Tudo isso porque tinha no comando alguém que resolveu quebrar regras e soube conduzir sua equipe: Rinus Michels, escolhido pela Fifa em 1999 como o Técnico do Século. Ok, a Holanda não venceu a Copa, mas se tornou uma referência, quebrou regras e conquistou o público. Se os gestores de nossas empresas incorporarem os conceitos de Rinus e os desenvolverem de forma consistente no longo prazo, é gol na certa!

Marcelo Santos é vice-presidente de RH do BankBoston, presidente da Fundação BankBoston e torcedor fanático do Santos.

TRABALHO EM EQUIPE

No futebol, todo torcedor sabe quais são as grandes equipes. Como? Pelos resultados: as equipes que ficam na memória são as vencedoras. São times que aliaram a eficiência à eficácia. Embora os torcedores reverenciem os grandes craques, também sabem que, sozinho, nenhum jogador faz uma equipe campeã.Esse mesmo raciocínio se aplica integralmente ao mundo corporativo atual. Saber atuar em equipe passou do discurso para a prática. É uma competência que se fortalece não só de dentro para fora da empresa (os gestores a valorizam e exigem-na cada vez mais), mas também de fora para dentro (a grande concorrência do mercado de trabalho a estimula). A razão disso é a constatação de que o resultado se potencializa pela atuação em equipe e de que as sinergias dos times dentro de uma empresa fazem dela vencedora.Essa realidade traz um certo paradoxo corporativo. Os profissionais possuem interesses e metas individuais para sua carreira, que os motivam assim como os resultados de seu time. No entanto, têm de aprender a abdicar, eventualmente, de alguns desses interesses, divergentes das metas da empresa, em favor do resultado da companhia. A organização deve reconhecer o desempenho individual, mas sem perder de foco que estímulo ao trabalho em equipe deve sobrepor as metas individuais. É a empresa com o desafio de cobrar esse pênalti e fazer o gol da gestão excelente do capital intelectual.

Wagner Brunin é, diretor de Recursos Humanos da Basf para a América do Sul e palmeirense.

TREINAMENTO

Todos sabem que a "mágica" que cria um time vencedor é a quantidade e a qualidade de treinos em conjunto, gerando sinergia e alto desempenho. Nesse caso, o importante é a repetição da prática, com orientações para melhoria do resultado. O interessante é que o mesmo raciocínio pode ser aplicado para a busca de desempenho das empresas.O treinamento é o momento que cada jogador pode testar suas habilidades sem medo, verificar suas potencialidades, em um ambiente protegido, onde errar não gera conseqüências graves. Assim como o jogador, na situação real, não tem tempo para pensar se se sairá bem batendo com a esquerda ou com a direita, os profissionais também não tem muito tempo para, no meio de uma reunião de negociação, testar os diferentes estilos de negociador que podem adotar. A prática deve estar incorporada naturalmente.

Almiro Reis Neto, presidente da Franquality Consultoria é palmeirense (mas o time de coração é a seleção brasileira)

MARKETING PESSOAL

Se são muitas as lições que saem dos campos de futebol, da mesma maneira alguns conceitos podem ser bem aplicados nos gramados oriundos do ambiente corporativo. A preocupação com o marketing pessoal, tão em voga nos últimos anos entre executivos, teve ressonância na carreira de um jogador desde algumas décadas: Dario José dos Santos.Ele passou por 17 clubes, esteve na vitoriosa e inesquecível seleção de 70 e, em 1971, fez o gol que garantiu ao Atlético-MG o título de primeiro campeão brasileiro. Dario tinha tanta desenvoltura nas quatro linhas quanto no marketing pessoal. E, para realçar a própria imagem, adotou Dadá Maravilha como marca - sem contar Dadá Beija-Flor, Dadá Peito-de-Aço e Rei Dadá.Dono do recorde de 10 gols numa mesma partida (num jogo em que o Sport de Recife venceu por 14 a 0 o Santo Amaro, em 1975), Dadá é também conhecido por suas tiradas de efeito que ajudaram a consolidar sua imagem. Em entrevista à revista Língua Portuguesa, o ex-jogador revelou que começou a fazer as frases quando entrou no futebol, aos 19 anos. "Era ruim de doer e todos me xingavam de perna-de-pau. Foi quando comecei a me defender com as palavras", lembra, acrescentando que, se tivesse de escolher entre as frases proferidas por algum colega de futebol e as dele, ele preferiria as de Dadá, como:

Não me venham com problemática, que eu tenho a "solucionática".

Só três coisas param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá.

Não existe gol feio. Feio é não fazer gol.

Garrincha, Pelé e Dadá deveriam fazer parte do currículo escolar.

Com Dadá em campo, não tem placar em branco.

Se minha estrela não brilhar, eu passo lustrador.

Fonte: Revista Melhor

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