segunda-feira, 25 de agosto de 2008

02 Neurônio


A morte do e-mail
Jô Hallack/Nina Lemos/Raq Affonso

HÁ QUANTO TEMPO você não manda um bom e-mail? Responder uma corrente ou mandar um trabalho de grupo para um colega não vale. Estamos falando dos e-mails de verdade. Aqueles de amor ou amizade que começam com "querido fulano" na primeira linha e terminam com o seu nome embaixo, escrito depois de alguma expressão estilo "love you". Ou "do seu eterno". Algo assim. Nem que seja um "estimo melhoras".

Já tínhamos lamentando a morte das cartas, aquelas escritas em papéis e mandadas em envelopes. Cartas que andavam por dias a fios nas bolsas dos carteiros, misturadas a 1.001 declarações de amor, de afeto, de dramas e de brigas. Os carteiros, coitados, agora só entregam conta para pagar e santinhos de políticos. E agora, percebemos que os e-mails também estão morrendo. Quer dizer, na verdade eles já morreram e ainda não foram enterrados.

É tanto SMS, MSN, Twitter, Orkut e Facebook nesta vida, que somos capazes de viver um romance inteiro sem trocar ao menos um e-mail com nosso pretendente. Resolvemos todas as nossas pendengas sentimentais em conversas via MSN, o que diminui um pouco (ou muito) do romantismo da coisa toda. Fora que, se ficarmos famosos, não poderemos mais publicar livros de correspondências póstumas. Livro com conversa de MSN não!

O pior da morte do e-mail é que a expectativa de abrir o computador esperando um e-mail miraculoso, aquele de algum homem maravilhoso ou com alguma outra notícia espetacular, também caiu por terra. Quando apertamos a tecla enviar e receber e percebemos que temos mais 24 e-mails novos não ficamos mais deliciosamente ansiosas. Pelo contrário, pensamos, "que saco, mais 24 correntes e propagandas".

Somos nostálgicas. E nos assustamos ao ver que músicas novas, como "Odeio você", do Caetano, já dataram. Quem ainda pensa: "Veio enfim um e-mail de alguém?". Achamos que o e-mail ainda pode ser salvo.

Por isso, fazemos agora uma conclamação. Cada um de nós vai mandar um bom e-mail para alguém após ler esta coluna. Agora. E tem que ser longo.

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