terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Perdão

A hora de perdoar é agora

Um ato amoroso que começa em nós mesmos e demanda muita reflexão e autoconhecimento. Daí pode-se voar para uma vida mais saudável – pois o perdão ajuda a barrar uma série de doenças – e surge uma deliciosa e perene sensação de paz. Chantal Brissac

Uma técnica havaiana, chamada oponopono, que significa “amar a si mesmo”, prega a cura interior antes de trabalhar o que está fora. Em outras palavras: à medida que você se cuida, seu mundo se modifica para melhor.

Segundo o escritor e arquiteto Carlos Solano, essa técnica, usada para fazer prosperar a condição da casa, também pode ser adotada em prol dos relacionamentos amorosos, familiares e profissionais. “Eu sinto muito, eu te amo” é um dos mantras do oponopono, uma amorosa forma de dizer perdão. “Acho que o fato de perdoar, seja um acontecimento, seja uma pessoa, afeta a estrutura inteira de sua vida. Tanto faz escolher perdoar se primeiro ou a outra pessoa. O que conta é entrar na freqüência do perdão, que libera o peso do passado e abre caminhos”, afirma Solano.

Perdoar, afinal, não remete apenas ao outro, mas, primeiro, a si mesmo. E isso, acredite, faz um bem danado: para a saúde do corpo, para o bem-estar da alma, para os relacionamentos e é uma habilidade que pode ser aprendida e praticada por qualquer um por meio dos mantras do oponopono ou até por exercícios de autoanálise.

Essa segunda possibilidade é proposta pelo psicólogo americano Fred Luskin, que fez do perdão seu objeto de estudo. Luskin é diretor do Projeto do Perdão da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e pesquisa isso há décadas. O tema é abordado em sua mais recente obra, Aprenda a Perdoar e Tenha um Relacionamento Feliz (ed. Ediouro). “Muitos casais se mantêm irritados durante anos com pequenas coisas, outros vivem ressentidos em casa ou no trabalho.

Perdoar não é ser condescendente com a grosseria do outro ou se reconciliar com alguém que você não quer mais como parceiro. O perdão ajuda você a ter controle sobre seus sentimentos, é uma habilidade que pode ser aprendida e praticada em sua rotina”, disse Luskin em entrevista a BONS FLUIDOS. Isso significa tolerar o motorista que deu aquela fechada no trânsito, desculpar a atendente da loja pelo mau humor, se perdoar por sentimentos negativos, ações incorretas e histórias passadas.

O bem que faz para a saúde

Segundo o especialista Fred Luskin, perdoar ajuda a barrar o desenvolvimento de problemas cardíacos e reduz os índices de câncer e outras doenças ligadas aos sentimentos negativos. Além disso, traz o delicioso sentimento de paz. “Paz na mente, no corpo e no espírito. Há um grande alívio por não precisar guardar mais ressentimentos, rancores e mágoas. No início da prática, a paz surge em pequenas on das, mas, com o tempo, vai tornando a pessoa mais forte, mais cal ma e capaz de enfrentar outras dificuldades”, afirma.

Luskin ensina seu método em sete passos e tem um site sobre o assunto. Ele mostra, por exemplo, que precisamos aprender, primeiro, a desculpar as pequenas atitudes do dia-a-dia. As coisinhas que incomodam, como o fato de o seu parceiro ter esquecido de levar o cachorro para passear. Outros pontos em que o psicólogo americano toca: cada um de nós deve reconhecer que ninguém é perfeito – inclusive a gente mesmo –, aceitar o que não podemos mudar e ter paciência consigo. O pesquisador já exercitou o método de trabalho com casais, jovens e profissionais de empresas. Uma de suas experiências mais marcantes foi um projeto realizado na Irlanda do Norte com famílias que perderam os filhos por causa da violência política e religiosa. “Ao conseguir perdoar os assassinos de seus filhos, as mães deixaram a depressão e o pessimismo, adquirindo força para lidar com isso”, conta.

Para o teólogo Francisco Catão, escritor e professor de teologia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), existem duas categorias de pessoas quando o assunto é perdoar: as que entendem o perdão e as que não entendem. “Essa atitude é a caixa-preta da paz”, afirma.

E, assim como as teorias de Luskin e a técnica havaiana do oponopono, o teólogo Catão acredita que o ato de perdoar possibilita um grande aprendizado – sobre o outro e sobre si próprio – e coloca as relações humanas em outro patamar: “É o nível do amor, o que falta na humanidade hoje”, finaliza. Então, que tal começar o ano treinando o perdoar? Quem mais ganha com isso é você.

Significado:

A palavra perdão guarda muitos significados. O filósofo Mario Sergio Cortella lembra que o prefixo per, em latim, sempre dá o sentido de “por inteiro, completo, concluído”. “Por isso, perdoar significa doar por completo, oferecer completamente, entregar sem retorno. Em outras palavras, perdoar é apagar de forma sincera e definitiva qualquer ressentimento e responsabilização de outrem por algo negativo que causou”, ele explica.

Por que é tão difícl perdoar?

Para a neuropsicóloga e terapeuta cognitiva Maria Carla da Silva, existe a dificuldade de perdoar porque as pessoas confundem o perdão com uma demonstração de fraqueza, quando ele é justamente o contrário: sinal de força de caráter, altruísmo e amor à vida. “É uma alforria da dor e existe em três dimensões temporais. Quando você perdoa, liberta o passado, ocupa o presente da maneira certa e vê esperança no futuro. O perdão permite nos reconciliar não só com as pessoas mas também com a própria vida”, diz Maria Carla. No campo neurológico, ela explica que o perdão equivale a um banho de vida, já que o sistema límbico é favorecido. “As memórias negativas se apagam e o cérebro e todo o organismo são recompensados porque ficam livres de um fardo energético.”

Fonte: Revista Bons Fluídos

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