segunda-feira, 21 de julho de 2008

Amar É...


Revista da Folha

Minha mulher vive me dizendo "Eu te amo", mas me trata de maneira horrível. Afinal, o que significa esse "Eu te amo"?

É preciso entendê-lo por partes. Quem é "eu"? Será que sua mulher fala a partir do "ego", um sofisticado programa no cérebro que é capaz de produzir frases como "Eu quero entender o meu marido e ser companheira dele"? Um programa que não funciona no automático, mas pela autoconsulta. Que é capaz de se olhar, se refletir e considerar o outro, sem tirá-lo por si, como alguém diferente. Se ela estiver tomada pela maior religião que existe, o senso comum, dificilmente terá o programa "eu" funcionando. Ela só vai estar repetindo o "que todo mundo diz que é certo".Se ela não sabe o que é "eu", dificilmente saberá o que é "te".

Quem é "te"? É você. O seu "eu", a pessoa em que você se traduz. Alguém apaixonado não lida com ninguém diferente de seu ideal, ou seja, só está olhando para dentro, para suas expectativas de maravilha, nunca para você.

O que é "amo"? Será uma excitação romântica? Será uma paixão? Será um batimento acelerado do coração?Será um tesão? Será, como uma empregada minha dizia, "falta de carência"? Nada disso é você. Nada disso é o seu "eu", a sua pessoa. Amar é olhar o outro. É acolhê-lo com suas diferenças. É apreciá-las. É achá-las complementares ao seu desejo. Se não for assim, "Eu te amo" não quer dizer nada.

Francisco Daudt é psicanalista e escreve quinzenalmente nesta coluna.

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